Na semana de 24 a 30 de julho de 2016 o Universo do Vinil abriu para respostas a sua primeira pesquisa sobre o perfil do fã de discos de vinil.
Esta pesquisa tem como razão compreender este universo do fã/colecionador e, assim, perceber algumas preferências, comportamentos, tendências e características com mais propriedade.
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Quer comparar esta pesquisa com os resultados da realizada em 2017? Clique aqui
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Compreenda a metodologia*:
Esta pesquisa não tem caráter científico, visto que, foi um levantamento na web, sem delimitar a amostra e muito menos determinar o universo, pois, foi respondida por adesão voluntária. Mas, mesmo sendo elaborada desta forma, ela nos dá pistas importantes para a análise do objeto estudado e nos permite visualizar alguns indicadores.
Foram 702 respostas (espontâneas) oriundas de curtidores e não curtidores do UV no Facebook, bem como, possivelmente alguns leitores e leitoras do Portal UV. Portanto, não foi uma pesquisa específica de frequentadores dos sítios do Universo do Vinil na Internet. Este fator é importante, pois ele mostra que não houve um direcionamento único do público de respondentes, excetuando que sua grande maioria é frequentador do Facebook.
Para determinar que a direção de respondentes fosse além dos curtidores e frequentadores das páginas do UV, foi utilizado o artifício da promoção paga da postagem no Facebook com 2 situações a) direcionada a curtidores e amigos dos curtidores do UV e b) direcionada a não curtidores do UV. O direcionamento da promoção do caso “B” foi para um público que já tinha preestabelecido na Rede Social em questão que eram fãs de música. A comprovação deste direcionamento está nas curtidas dos anúncios veiculados durante a semana, onde, se percebe que um número substancial não é de curtidores da página.
Resultados:
- O fã de vinil é predominantemente do sexo masculino e os fãs estão, em sua maioria, na faixa acima dos 33 anos
- A renda familiar é acima dos 3 mil Reais
- 53,2% tem curso superior e apenas 1,7% tem o ensino fundamental incompleto.
- 83% gostam do vinil desde sempre
- 97% dos respondentes tem vinil em casa
- Destes que tem vinil em casa apenas 13,1% tem menos de 50 discos
- 18,1% compram até 4 vinis por ano e 42,5% compram mais de 12
- 76,6% compram vinis novos e usados e 21,2% compram só usados
- 83,5 % afirmam não ter preferência em comprar vinil nacional ou importado perto dos 8,3% que afirmam comprar só nacionais e 6,1% comprar somente importado
- Sobre como compra vinis (esta questão podia ter mais de uma resposta) 78,3% vão às lojas físicas comprar; 63,1% compram em lojas brasileiras pela Internet; 26,9% afirmam importar em e-commerce internacional e 17,5% compram diretamente em viagens ao exterior ou encomendam de alguém que vá a outros países.
- 30,5% do comprador de mídia de música adquire somente vinil e 53,6% compra CD e 40,5% DVD legais. A compra de CDs piratas é de apenas 4,1% e de DVD nesta mesma situação é de 4,4%, em contrapartida, 42,6% faz download ilegal. 19,9% é assinante de algum streaming de música e 24,1% utilizam o streaming gratuito.
- 49,1% dos que ainda não compraram vinil afirmaram não ter adquirido, pois, ainda não encontrou aquele que deseja. 20% não tem dinheiro para gastar com vinil e apenas 7,3% disseram não ter pretensão de compra.
- 91,8% dos respondentes tem toca-discos. Destes 49,2% tem mais de um em casa (vide as marcas na tabela abaixo)
- 45,3% não sabe a idade do seu player de vinil e 8,1% recém o comprou
- 40,1% escuta vinil todos os dias e somente 7,5% escuta raramente
- Apenas 23,9% escuta seu vinil sozinho.
- Dos que disseram não ter toca-discos, a causa de não os ter está ligada à falta de finanças para comprar (60,3%)
- Destes que não tem toca-discos 49,5% não tem onde escutar e 50,5% escuta em outro local, tais como: em casa de amigos 77,2%; em casa de parentes ou namorada(o) 22,8%; 15,8% em bibliotecas ou no trabalho e 7% no local de estudo.
- Nas escolhas da preferência musical (podia escolher mais de uma) o rock internacional, seguido do rock nacional, da MPB e do blues são os estilos prediletos do fã do vinil.
Algumas considerações:
Este levantamento pode nos dar inúmeros outros resultados bastando cruzar algumas respostas, porém, não iremos realizar totalmente tal empreitada – quem sabe numa próxima Conversa de Vinil apresentamos outras possibilidades.
O fato é que em sua maioria o fã de vinil é homem com curso superior e renda familiar acima de 3 mil Reais (a média da renda familiar nacional segundo o IBGE é de R$ 1.052,00), compra vinil regularmente em lojas físicas e pela Internet e os tem em quantidade em casa. Ao compreender que o fã do vinil também adquire CD e DVD musical e legalmente, pode nos fazer pensar que a falta de títulos em vinil seja um empecilho para aumentarem as compras.
Levando em consideração que existe uma expressiva parcela com renda inferior a R$ 3000,00 e somando àqueles que ainda não adquiriram vinil por falta de um maior poder aquisitivo, nos inclina a imaginar que o preço do vinil não consegue chegar a todos que dele gostam, podendo atrapalhar o enraizamento mais profundo e a consequente distribuição desta cultura nas distintas classes sociais e faixas etárias. Se alguém pensa que vinil é uma tendência elitista por causa do seu preço existente hoje em dia, se engana ao ver o grande número de fãs nas classes economicamente desprivilegiadas. A questão entre demanda, oferta e valor são fatores que, obviamente, precisam ser melhor estudados e deve ser acrescentado nesta análise as preferências de estilos musicais como veremos abaixo e a importância dos diferentes extratos etários e sociais para a manutenção do vinil como um modo logevo e economicamente atrativo para a indústria fonográfica, artistas e o comércio especializado, bem como, para o colecionador e fã.
O grande número de pessoas que responderam comprar em lojas físicas indica a veracidade do rejuvenescimento do mercado de discos, outrora em franca decadência.
Outro fato que nos chama a atenção são as marcas de toca-discos fora de fabricação predominarem (Technics; Gradiente – Garrard; Philips, Sony e se juntarem todas as vintage veremos que é a franca maioria) e marcas mais novas e de renome pouco surgirem na pesquisa. Neste quesito a campeã é a Audio-Technica. Talvez este fator esteja ligado à falta de toca-discos de qualidade com preços acessíveis no mercado brasileiro. Entre os novos, marcas como Crosley, CTX e Ion predominam nos lares dos fãs de vinil e algumas situações ligadas a estes últimos aparelhos podem atrapalhar a experiência com o disco, se tornando um problema. Ainda na questão do toca-discos e o levantamento nos indicar que muitos tem mais de um em casa. Isso nos dá a perceber, juntando com a questão de como escuta música, que este ato da audição é eminentemente social e quem tem o hábito do vinil não se prende a um único aparelho tocador e socializa sua escuta com outros. Uma análise superficial das marcas dos aparelhos dos respondentes da pesquisa pode nos sugerir que existe uma desproporcional relação entre a venda de discos e a venda de toca-discos, afinal, um não pode viver sem o outro e deveria ser um mercado visto praticamente como único.
Os fãs de vinil são rockeiros por excelência e depois vem a MPB e o blues, provavelmente isto responde os motivos do sucesso de relançamentos de títulos destes estilos em vinil e pode indicar às gravadoras e selos que esta é uma tendência incrustada na preferência do fã.
Um fator que nos instigou bastante é que grande parte do fã do vinil que ainda não se tornou consumidor foi por não estar atraído por nenhum álbum que esteja para venda. Quem sabe este não é um indicador para perceber melhor os catálogos em vigor e cruzar com a preferência de estilos? Provavelmente, faltam muitos títulos de rock, MPB, blues, jazz, soul e outros na escala das predileções para venda e, quiçá, alguns estão “encalhados” nas lojas por não estarem nas inclinações de compras dos fãs ainda não consumidores?
Por fim, a cena vinil precisa atrair mais as mulheres e os jovens. Mesmo os abaixo dos 32 anos serem 26,3%, apenas 7,5% tem menos de 22 anos e a juventude é quem poderá perpetuar esta magnífica e clássica tecnologia.
Veja os gráficos na galeria:
Marca dos toca-discos dos fãs dos discos de vinil
Marca | Quantidade |
Technics | 80 |
Gradiente
Garrard |
76
11 |
Philips | 47 |
Sony | 44 |
Audio-Technica | 25 |
Ion | 22 |
Numark | 17 |
CCE | 15 |
Crosley | 14 |
Sharp | 10 |
Pionner | 09 |
Polivox | 09 |
Gemini | 09 |
Sansui | 09 |
CTX | 08 |
Philco | 07 |
Aiwa | 07 |
National | 07 |
Toshiba | 06 |
Samsung | 05 |
Teac | 05 |
Station | 04 |
Marantz | 03 |
Pro-Ject | 03 |
Sonata | 03 |
Torentz | 03 |
Kan | 02 |
Sanyo | 02 |
Panasonic | 02 |
Imaginarium | 02 |
Clearaudio | 02 |
Outros | 19 |
Total | 487 |
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*A pesquisa foi assinada pelo Prof. Dr. Glaucio Machado – cientista social, coordenador e professor de cursos de mestrado e doutorado na área de Propriedade Intelectual na UFS, editor do UV, colecionador e pesquisador sobre a indústria fonográfica e a cena vinil.
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