Salami Rose Joe Louis se reinventa em Lorings com introspecção e charme analógico

Salami Rose Joe Louis é como uma versão do Captain Beefheart para os fãs de sintetizadores que cresceram assistindo ao Adult Swim. Sua trajetória começou de maneira nada convencional: em uma banda punk, tocando um liquidificador — sim, o eletrodoméstico. Seus primeiros álbuns receberam nomes tão excêntricos quanto sua música: Son of a Sauce! e Zlaty Sauce Nephew. Depois disso, vieram projetos conceituais ambiciosos de ficção científica.
Antes de adotar o nome artístico Salami Rose Joe Louis, Lindsay Olsen era cientista, pesquisando a acidez dos oceanos. Durante os intervalos no laboratório, ela tocava piano e encontrava conexões entre formas moleculares e sequências de acordes. Hoje, sua música pode ser descrita, com base no título de uma de suas canções, como “alegremente aquática”. Suas composições imitam a fluidez do mar: sons que borbulham nos graves, sobem até uma superfície espelhada, formam melodias que crescem e depois recuam, como ondas.
Olsen compõe quase exclusivamente em uma estação de trabalho Roland MV-8800, charmosa e fora de moda. Seu som digital lembra o talento do Stereolab em transformar o kitsch tecnológico em uma linguagem própria, com efeitos sonoros caricatos, timbres irreverentes e melodias livres e sofisticadas. No entanto, os enredos exagerados de ficção científica dos últimos álbuns — com viagens interdimensionais, nuvens falantes e humanoides biônicos — acabaram por obscurecer sua criatividade musical. Em Lorings, ela abandona esses adornos galácticos e troca as conjecturas cósmicas por uma introspecção serena. O resultado é um álbum mais coeso e impactante.
Lorings revela uma Olsen tímida e cativante, refletida até mesmo no sorriso contido da capa. Sua voz é suave e hesitante; as canções nunca ultrapassam o volume de um canto de passarinho. Embora os versos pareçam vacilantes, transmitem com clareza uma sensibilidade que faltava em trabalhos anteriores. Cada faixa se sustenta por si só, um pequeno tumulto de técnica e invenção.
As texturas acolchoadas e aveludadas criam uma atmosfera calorosa e tranquila à primeira escuta. Mas, com mais atenção, Lorings mostra-se inquieto e pulsante — fruto de uma mente que tenta aquietar sua imaginação hiperativa. Em faixas como “Motorway” e “I dunno ways”, Olsen interrompe melodias lentas e precisas com momentos experimentais inesperados. Há colisões entre sintetizadores lounge e o jazz livre. “That must be hard for you” lembra o fusion jazz da banda japonesa CASIOPEA, mas como se fosse tocado com o cuidado de não incomodar os vizinhos.
Lorings é um exercício de equilíbrio: grandes ideias encapsuladas em molduras modestas. O som tem uma fidelidade límpida, sem perder o charme artesanal. As atmosferas criadas por Olsen não soam panorâmicas, mas sim como uma luz contida, concentrada. Os acordes entrecortados de “Hobbies” parecem querer se transformar em hino, mas permanecem confinados nas paredes estreitas da música, como luar entrando pela janela de um apartamento minúsculo. A organização das faixas também acompanha essa dualidade entre agitação e calma. A primeira metade é um parque sensorial. “A sauna sized pill”, a mais frenética, soa como uma enxurrada de ovos de borracha lançados em um túnel de vento. Já a segunda parte desacelera, com batidas e brilhos suaves, preparando o terreno para o verso mais direto e tocante do disco, na faixa “Wet Log”: “Liguei pra minha mãe e perguntei / Essa tristeza vai durar?”
Com Lorings, Salami Rose Joe Louis encontra o ponto de equilíbrio entre imaginação e sensibilidade, entregando seu trabalho mais maduro e emocional até agora.